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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UMA RAJADA DE BALAS (1967) - BONNYE & CLYDE



Durante a era da Grande Depressão, Bonnie (Faye Dunaway) e Clyde (Warren Beatty) são dois jovens que se conhecem de forma inusitada, acabam se apaixonando e se tornam uma das duplas de assaltantes mais famosas de toda a história americana. 


Bonnie e Clyde, produzido em 1967, foi chamado pelo crítico Patrick Goldstein de "o primeiro filme americano moderno", num ensaio que comemorava o seu trigésimo aniversário. E foi isto o que pareceu na época do seu lançamento. Os cinéfilos norte-americanos jamais tinham visto algo semelhante. No tom e na independência, ele descende da nouvelle vague francesa, especialmente de Jules e Jim - Uma mulher para dois, filme de François Truffaut sobre amantes condenados. Na verdade, foi Truffaut quem primeiro abraçou o roteiro original de David Newman e Robert Benton e chamou a atenção para Warren Beatty, que se determinou a produzi-lo.


A lenda a respeito da produção do filme se tornou tão famosa quanto seus heróis. Contam-se histórias de como Warren Beatty se ajoelhou aos pés do chefão Jack Warner, implorando pelo direito de fazer o filme. De como Warner, ao assistir à primeira montagem, a odiou. De como o filme teve sua pré-estréia no Montreal Film Festival e foi execrado por Bosley Crowther, do New York Times. De como a Warner Bros se decidiu a enterrar o filme lançando-o numa cadeia texana de drive-ins, e de como Beatty implorou ao estúdio que lhe fosse dada uma oportunidade. De como foi lançado e logo retirado no outono de 1967, arrasado pela crítica.


O filme termina mas não nos deixa. A trilha sonora de ritmos e ra´zes populares de Flatt e Scruggs chegou ao topo das paradas. As boinas e maxis-saias de Theadora Van Runkle para Faye Dunaway criaram uma moda mundial. O crítico de cinema da revista Newsweek, Joe Morgenstern, escreveu que sua negativa análise original estava errada. O filme foi relançado e se transformou num dos maiores sucessos do atônito Jack Warner, recebendo dez indicações para o Oscar.


Mas isso é apenas a história do sucesso. Muito mais importante foi o impacto que o filme teve sobre a indústria norte-americana do cinema. A disposição de Beatty de fazer o papel de um personagem violento e com disfunções sexuais foi absolutamente incomum para os princípios de um ídolo dos anos 60. Num perfil da revista Squire, publicado no lançamento do filme, ele foi rejeitado como sendo somente um ex-rostinho bonito. Clyde o incluiu para sempre no mapa de Hollywood. Ele e o diretor Arthur Penn escolheram um elenco composto em sua maioria por atores de teatro - mas que obtiveram tanto sucesso, que todos aqueles que interpretaram papéis principais (Faye Dunaway, Gene Hackman, Estelle Parsons, Michael J. Pollard, Gene Wilder) foram reconhecidos como astros e estrelas a partir deste filme.


Estamos falando de um filme no qual todas as passagens inverossímeis foram ajustadas no momento exato. E mais do que tudo era uma obra-prima de harmonização, na qual os atores e o cineasta estavam todos sincronizados, transitando seguramente entre a comédia e a tragédia.


Nos dias de hoje, a atualidade de Bonnie e Clyde vem sendo absorvida por inúmeros outros filmes, e fica difícil entender como foi tão radical e original em 1967 - tanto quanto Cidadão Kane, em 1941, ou o de Acossado, em 1960, não parecem tão óbvios para aqueles que cresceram à sombra da sua influência. 


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