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quarta-feira, 7 de março de 2012

RAN ( 1985 )


Atualmente, Akira Kurosawa  (1910 - 1998 ) é incluído entre os maiores diretores, mas durante anos não conseguiu respeito nem recursos em seu próprio país. Só foi senhor do seu destino entre 1950 ( Rashomon ) e 1965 ( O barba ruiva ), 16 anos de uma vida longa, e nesse período realizou obras primas como Os sete samurais, Trono manchado de sangue, Viver, A fortaleza escondida, Céu e inferno, dois filmes idênticos sobre samurais Yojimbo e Sanjuro, entre outros.


Depois, a situação de Kurosawa ficou difícil. Condenado no Japão por ser "ocidental demais" e antiquado, precisou mendigar financiamento. Dodeskaden ( 1970 ), uma visão da vida dos pobres em Tóquio, foi rejeitado pelos espectadores japoneses. Transcorreram mais cinco anos antes de Kurosawa conseguir financiamento russo para Dersu Uzala, a história de um mongol das florestas que serve de guia para um explorador russo; conquistou o Oscar de filme estrangeiro, mas foi um fracasso de bilheteria. Em 1980 realizou Kagemusha, a sombra do samurai, magnífico épico medieval , como "ensaio" para o grande filme; embora tenha sido um sucesso, ainda não havia dinheiro para Ran. Kurosawa encheu vários cadernos com desenhos das locações e das roupas e com storyboards das cenas. Finalmente conseguiu um anjo protetor: o produtor independente francês Serge Silberman, que apoiara forasteiros como Buñuel e agora arranjara os recursos para Ran.


Nesse filme há muito de Rei Lear, inclusive um velho rei, Hidetora ( Tatsuya Nakadai ),  que imprudentemente dividiu seu reino em três partes (entre os filhos, sem incluir as filhas ). O centro de Rei Lear é o velho. Em Ran, às vezes temos a impressão de que a vida está passando à margem de Hidetora, que perplexo e marginalizado, é lançado de uma tragédia para outra. Em uma cena no início do filme, sabemos por Hidetora que ele passou a vida fomentando a guerra até controlar tudo o que via. Agora quer dividir os três castelos entre os três filhos, achando que isso trará paz à terra. O filho mais novo, o que mais o ama, diz-lhe que isso não funcionará. Hidetora expulsa-o (ele se casa com a filha de um poderoso comandante militar, assim como Cordélia se casou com o rei da França ). Então a guerra arrasa as terras, enquanto os outros dois filhos lutam pelo controle. Hidetora vagueia por suas terras acompanhado de seu Bobo, mas os filhos e seus guerreiros se preocupam mais com as batalhas do que com aquela figura patética e decorativa


Kurosawa é um mestre em técnicas de filmagem e as sequências de batalha de Ran continuam sem paralelo. Kurosawa combinou Rei Lear com um épico japonês medieval que lhe forneceu o personagem de Lady Kaede, a esposa de Tara Takatora, o filho primogênito. Kaede ( Mieko Harada ), com as sombrancelhas pintadas e empoleiradas no alto da testa em um ar de perpétua censura, poderia ser inspirada em Lady Macbeth. Depois que Tara Takatora é assassinado, ela ameaça a vida do cunhado, Jiro Masatoru, para depois poupá-lo e se tornar sua amante. As bizarras exigências de vingança formuladas por Kaede marginalizam ainda mais o velho, cujos tolos sonhos de paz são aniquilados com uma série de implacáveis desforras e decapitações. A morte de Kaede, há muito esperada, não é exibida diretamente, mas através de um grande jato de sangue contra uma parede, obra-prima de precisão e acabamento.


Pode-se medir a influência mundial de Kurosawa citando que A fortaleza escondida ajudou a inspirar Guerra nas estrelas; que Os sete samurais foi refeito como Sete homens e um destino; e que Yojimbo e Sanjuro se transformaram em faroestes com Clint Eastwood: Por um punhado de dólares e Por uns dólares a mais.



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