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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CIDADÃO KANE ( 1941 ) - CITZEN KANE



"Nenhuma palavra pode explicar a vida de um homem", comenta um dos pesquisadores dos tesouros que Charles Foster Kane deixou para trás, empilhados em um armazém. Então somos apresentados à famosa série de sequências que nos conduzem até o close-up da palavra "Rosebud" gravada em um trenó que fora lançado em direção a uma fornalha, quando sua inscrição crepita no meio das chamas. Sabemos que se trata do trenó que na infância pertencera a Kane, que lhe foi tirado quando ele foi separado de sua família e enviado para um internato no  leste. Rosebud é o emblema da segurança, da esperança e da inocência da infância, e a cuja procura um homem pode dedicar toda sua vida.



As origens de Cidadão Kane são conhecidas. Orson Welles, o menino prodígio do rádio e do palco, recebeu liberdade total da RKO Radio Pictures para realizar qualquer filem que desejasse. Herman Mankiewicz, um expoente escritor de cinema, colaborou com Welles em um roteiro originalmente chamado de O americano. Inspirava-se na vida de William Randolph Hearst, que criou um império de jornais, estações de rádio, revistas, agências de notícias, e depois construiu para si mesmo o resplandecente monumento de San Simeon, um castelo mobiliado com relíquias minuciosamente coletadas pelo mundo afora.


É um dos milagres do cinema que, no ano de 1941, um diretor de primeira viagem, um roteirista cínico e beberrão, um cineasta inovador e um grupo de atores de teatro e de rádio de Nova York tenham conseguido o controle total sobre um estúdio e realizado uma obra-prima. Cidadão Kane é mais do que um grande filme; é uma coleção de todas as experiências da nascente era do som, assim como O nascimento de uma nação, de 1915, reuniu tudo o que havia sido aprendido no auge da era do cinema mudo.


No filme, é contada a história de Charles Foster Kane ( interpretado pelo próprio Welles ) que nasce pobre, mas enriquece por conta de uma mina de ouro herdada pela mãe. Na juventude, começa a erguer um império populista jornalístico e radiofônico, casando neste ínterim com a sobrinha de um presidente americano e concorrendo a governador. No entanto, todas as suas ambições de poder são frustradas. Ele morre praticamente sozinho em seu castelo, ansiando pela simplicidade da sua infância.


Mais importante que o enredo é o fato do filme começar com a morte de Kane e sua enigmática última palavra: " Rosebud ", talvez a mais famosa palavra da história do cinema. Mas quem realmente ouviu Kane pronunciá-la antes de morrer? O mordomo afirma, quase no final do filme, que ele a pronunciou. Mas Kane parece estar sozinho no momento em que morre, e o vidro do peso de papel quebrado reflete a entrada da enfermeira no quarto( Mexericos da época davam conta que o roteirista Herman Mankiewicz utilizou Rosebud como uma piada pessoal, pois, como amigo de Marion Davies, a amante de Hearst, ele sabia que "Rosebud" era o nome carinhoso com o qual o velho homem denominava a parte mais íntima da anatomia dela ).


A estrutura de Cidadão Kane é circular, acrescentando mais profundidade a cada volta que a vida dava. O filme abre com um cinejornal apresentando um obituário, um resumo da vida e da obra de Kane; esta sequência, com sua portentosa narração, nos manterá orientados enquanto o roteiro salta no tempo, juntando todas as peças das memórias daqueles que o conheceram.

Cidadão Kane sabe que o trenó não é a resposta. Explica o que é Rosebud, mas não o que Rosebud quer dizer. A construção do filme mostra como a nossa vida, depois que partimos, sobrevive somente na memória dos outros, e estas lembranças se agarram contra as paredes que erigimos e os papéis que interpretamos. Aqui temos o Kane que odiava o truste dos transportes, o Kane que amava a amante acima do casamento e da carreira política, o Kane que morreu na solidão.




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